10 abril, 2020

78.

Uma noite qualquer de um dia aleatório. Eu tava sentada na frente do computador, tentando terminar meu romance. Era o primeiro que eu tentava escrever, antes só escrevia pra sites e alguns artigos. “foda-se, agora vou ir atrás do meu sonho”, pensei. E foi assim que comecei a ir, sentada na frente do computador, com alguns capítulos completos. Sempre buscando inspiração em copos de bebida e em sentimentos passados. Saí do quarto direto pra geladeira, na esperança de ter sobrado alguma coisa da noite passada. Diabos, não tinha mesmo nada que me agradasse. Acho que não conseguia me satisfazer com pouco sequer em relação à comida. Fui tomar uma ducha, quando me deparei com minha própria cara no espelho do banheiro. Acho que a ressaca exalava de mim, ou talvez algum outro sentimento estranho. Nunca me dei bem com nenhum dos dois. Quando saí do chuveiro, me vesti, peguei as chaves e saí. É estranho não ter mais de quem se despedir ou pra quem dar satisfações antes de ir.
    Ia andando, mas porra, senti um cansaço. Peguei o celular e pedi um carro. Sozinha, eram mais de dez. Acho que eu estava à própria sorte. Mas era tudo mais seguro agora – pelo menos falando sobre a cidade. Tinha mesmo evoluído um pouco, antes não se podia sair sem medo de alguém vir e tomar tudo que era seu. Já aconteceu comigo duas vezes em pouco tempo. Bando de filhos da puta que não sabiam do seu próprio caminho. Mas agora tudo tinha mudado. Lançaram umas medidas que deixaram a cidade mais relax. O carro chegou.
    Nunca gostei de conversar muito nesses carros por aplicativo, sempre preferi o silêncio. Dava pra pensar melhor. Mas dessa vez fiz questão de dar boa noite em alto e bom tom e comecei a dizer sobre como não tinha nada pra forrar o estômago, ou o fígado, em casa. Talvez eu estivesse ficando tão paranoica com os escritos que resolvi contar um pouco dos meus problemas pra um motorista aleatório. Quando me dei conta, parei. Acho que ele estava gostando de conversar. Mesmo porque nunca dão muita atenção pra quem os serve. É o mal da população. Sempre correndo, sem prestar atenção em quem está tendo seu sustento por nos beneficiar de alguma maneira. E olhando pra ele, tinha cara de quem poderia ter crescido numa faculdade. Podia ter um emprego do caralho. Mas acabou como motorista. Não são todos que tem sorte. Eu a tive um pouco, e a sorte nunca dura. Chegando no mercado, dei o valor pro motorista. Hoje em dia eu pago pelas minhas próprias merdas. Antigamente eu mal podia comprar uma lata. “Espero que continue tendo sorte”, eu disse, e saí. Acho que hoje estava mesmo muito pensativa sobre a vida. Não sei a razão. Talvez alguma dessas coisas cósmicas ou sei lá. 
    Entrei, comprei um salgado e sentei no meio fio pra comer. Porra, não tava satisfeita. Devia ser fome de algo que não se satisfaz. De qualquer forma, entrei de novo e comprei mais coisas, junto de uma caixinha com seis garrafas de cerveja. Dessa vez, sentei no banco que tinha em frente porque não queria parecer uma maluca. Mesmo que talvez seja de natureza. Eu acho que podia sentir nas minhas costas os olhares de todo mundo que passava por mim. Deviam pensar no que uma garota estaria fazendo sozinha a noite, com bebida e comida, em um banco na frente de um supermercado. Talvez essa não fosse mesmo a cena mais gloriosa, mas tinha alguma coisa diferente naquela noite. Então dei de ombros. Não liguei. Tava ocupada demais procurando estrelas naquele céu nublado. Sempre amei viver na cidade, mas era fodido o fato de que postes demais faziam parecer que tinham estrelas de menos, e elas sempre me deram paz. Me ocupei tanto com isso que a cerveja acabou e eu nem percebi. “Porra, o que fazer agora?”, eu disse pra mim, porque beber sozinha era mesmo deprimente, apesar de que já andava me acostumando com isso depois que me mudei. Virou um hobbie. Ou talvez fosse mesmo um alívio fajuto. Mas era o que me dava gás pra escrever. Cada um tem sua própria motivação pra tudo. O telefone tocou.
    Eu nem sabia que dia era, mas me disseram ser uma sexta. Foi a primeira coisa que disseram quando eu disse alô, e eu nem me toquei de quem era. Mas era um dos meus amigos. Perguntaram onde eu estava e disseram que iam passar pra me buscar. Aparentemente o meu próximo destino era um hookah. Além de tudo, isso também mudou um pouco onde eu morava: agora tinham mais. A cidade tinha mais gente, tinha que ter mais coisa. Tinha uma porra de um shopping. Finalmente, e não tarde demais. Mas ainda assim, nunca foi muito meu estilo ir pra lá passar o tempo. Meus amigos chegaram e eu entrei no carro. “Vocês não demoraram nada”, eu disse, “a gente tava aqui perto atrás de você, passamos na sua casa e ninguém atendeu”, me responderam, ao mesmo tempo que me passavam uma long neck. Me conheciam mesmo. Talvez tivessem um radar que dizia quando eu estava me sentindo um pouco fora do ar. Entre conversas e bebidas, foi assim até chegarmos.
Esse hookah ficava quase no início da cidade, tinha aberto há pouco tempo. Comentei que ia encher pra caralho porque eu tinha visto que ia ter evento ali  hoje. Foi dito e feito. A gente chegou um pouco cedo, e depois que pedimos o narguilé, não demoraram a chegar vários grupos. Fiquei aliviada por a gente ter conseguido um lugar pra sentar. A gente pediu dois baldes de Budweiser, e um balde vazio com gelo também. Eles tinham comprado bebida antes de entrar, e valia a pena mesmo pagar taxa pra entrar com algo que prestasse pra beber, são poucas as opções de bebidas nesses lugares. Abri uma long neck atrás da outra porque tava bebendo rápido, e eu sempre precisei estar um pouco mais animada pra começar a dançar. Mas não demorei a ficar, já tinha me abastecido antes.
    A gente mal tinha chegado e eu já tava de pé dançando uma música que eu mal sabia qual é. Eu não tava exatamente com uma roupa boa pra sair, mas pelo menos era uma roupa confortável o bastante pra dançar. Depois de umas duas músicas, parei e fui puxar o narguilé. Nunca fui a maior fã, mas hoje em dia eu puxava bem melhor do que antigamente. Tinha tido outras oportunidades e vontades de usar. A essência tava gostosa, o que fez eu sentir que podia ficar usando bastante. E assim foi. 
    Lavínia levantou pra dançar comigo. Eu tinha conhecido ela por um comentário aleatório que fez em um dos meus textos em sites, ela escrevia também. Tinha mais vontade do que ânimo, mas eu tava ajudando ela com isso. Viramos amigas por ficarmos conversando direto virtualmente, nos encontramos várias vezes nas saídas, e ela virou uma das minhas amigas mais próximas. Uma com quem eu realmente podia contar. Na verdade, ali com a gente estavam todas as três meninas com quem eu mais podia contar, incluindo ela. Isso me admirava, na verdade, porque nunca tive muita afinidade com meninas pra amizades. Minha facilidade maior de conversa sempre foi com meninos, mas com elas foi diferente. Era amizade de verdade. Voltando ao foco, a gente ficou de palhaçada dançando como quem estivesse sendo sensual uma pra outra. As outras meninas se animaram e levantaram pra dançar também, e eu não me sentia nem um pouco cansada. Diferente do normal. Sempre me cansei rápido. Mas naquela noite, tinha mesmo alguma coisa diferente. 
    Não era nem meia-noite quando chegamos lá, e pela hora seguinte, a gente ficou se dividindo entre dançar, beber e fumar. Teve uma hora que eu fui no banheiro com as coisas da Lavínia, pensei estar precisando de um “quê” a mais de rolê no meu rosto. Tava cansada daquela puta cara de ressaca. Tava me sentindo viva de novo aquela noite, então queria que meu externo refletisse isso. Ela entrou quando eu tava quase terminando de fazer meus retoques, e quis fazer um delineado no meu olho. Eu deixei. Tava ali de olhos fechados. Quando senti que ela tinha terminado, ia abri-los, mas isso foi interrompido porque ela me beijou. Beijei de volta. Depois a gente deu risada e saímos. Eu não tinha entendido nada, mas gostei.
    Fui no balcão pedir uma dose de tequila porque os guris concordaram de eles, eu e as meninas virarmos juntos. “Foda-se, vou pedir duas doses pra cada”, pensei. Dinheiro não parecia ser problema quando a gente tava se divertindo. Pedi as doses, levei algumas e o resto aceitei que o garçom levasse pra mesa. Sentei no banco, a gente virou. Virei a segunda e logo em seguida fui usar o narguilé. Mas puta merda, talvez eu tivesse abusado da minha capacidade alcóolica, porque senti minha pressão abaixar. Peguei uma lata no balcão e fui lá pra fora. Tava mesmo cheio, e tava todo mundo concentrado em ficar lá dentro. Lá fora tinha uma ou duas pessoas, com exceção de quem tava chegando. Mas chegavam e já entravam. O evento estava bom demais pra se desperdiçar. Na minha cidade não era comum isso acontecer, apesar de todas as mudanças. Não era comum um evento permanecer bom por tanto tempo assim.
    Já deviam ser duas e pouco, e lá estava eu procurando estrelas outra vez. Pensei que tinham mais do que antes, mas talvez eu só estivesse vendo dobrado por conta da bebida. Fui virar um gole. Alguém chegou do meu lado. Eu não tava com meus sentidos no cem porcento, e pensei que era um dos meus amigos que tinha me chamado. Olhei pro lado.
  - Vai se foder, não acredito.
    Era uma pessoa que eu não via há algum tempo, cerca de alguns anos. Eu já tinha vivido muitas coisas com ele há luas atrás, e tudo acabou talvez bem mal resolvido. Pros dois. Michael.
    Ele deu a risada do mesmo jeito que eu me lembrava que era – Vim pro evento, ué. Todo mundo tava falando.
  - Tanta coisa na sua cidade e você vem cair na minha, justo no mesmo evento que eu resolvi vir. Porra, esse lugar é um ovo.
    Ele tava com uma caixinha na mão, e eu já tava me sentindo melhor. A gente começou a beber e conversar sobre o evento. Foi estranho porque depois de tantos anos sem nos encontrarmos, conversamos com a mesma naturalidade de sempre. Acho que isso que sempre foi bom. A naturalidade e intimidade que permanecia no ar entre a gente mesmo com vários encontros e desencontros. Ele perguntou se eu não queria sair dali, e eu perguntei pra onde a gente ia aquela hora. “Tenho carro agora”, ele disse. Eu dei uma risada debochada, “finalmente conseguiu”, respondi. Disse que ia pegar minha bolsa lá dentro. Eu tava sentindo meu coração um pouco mais acelerado. Devia ser a bebida, não é possível que isso aconteceria agora mesmo com tanto tempo. Diabos. Me despedi de todo mundo e disse que tinha que ir embora, então saí.
    A gente entrou no carro dele. Não era uma Lamborghini, mas era o carro dele e ele parecia orgulhoso disso. Eu não me importava que não fosse o carro do ano. Eu disse, não são todos que tem sorte e eu sabia bem que nenhum de nós dois nunca foi muito privilegiado. Ele acendeu um beck.
  - Caralho, em, até hoje.
  - Você mesma disse. “Tu bebe demais, eu fumo sem mais”. – 
    A gente riu. – Onde vai tá aberto a essa hora?
  - Não sei, dá uma ideia de lugar.
  - A gente pode ir pra minha casa. Agora eu tenho uma. Acho que os dois evoluímos um pouco na vida. Digo, não é mesmo minha, é alugada. Mas contanto que o aluguel esteja em dia, é minha.
    Eu expliquei pra ele onde ficava e ele foi por dentro, não pela pista principal. Assim tinha menos chance de alguém ver ele com o beck, ou me chamar atenção porque eu tinha bebido. Mesmo porque eu continuava tendo um rosto que não fazia jus à minha idade real. Era um inferno. Antes da gente ir, conseguimos achar um lugar aberto e pedimos uma pizza pro meu endereço. Não era um restaurante chique, e talvez por isso fosse bem do lado de uma distribuidora. Distribuidoras parecem nunca terem hora pra fechar, hoje em dia. A gente comprou uma caixinha de Skol Beats, uma caixinha de cerveja e vodka. Colocamos tudo no carro e fomos embora.
    Assim que chegamos, enquanto ele dava uma reparada na minha casa, eu me prontifiquei a ir pra cozinha e fazer uma caipicerva. Com tantos anos de serviço, eu tinha aprendido a fazer alguns drinks clássicos. Minha casa também não era nenhum palácio. Cozinha americana, persianas, dois quartos – por mais que eu não soubesse pra que precisava de mais de um, morando sozinha -, dois banheiros. Nada especial na casa em si. Tinha tudo que uma casa costumava ter. Mas a decoração fazia minha essência ser enxergada em cada canto de lá. Tinham alguns dos meus livros preferidos – confesso que não organizados -, palavras de neon em uma das paredes, além das fitas led. Alguns dos meus móveis eram feitos com pallets, o que dava um ar rústico do caralho. O resto era normal. No meu quarto eu quis dar um ar de casa oriental, com a cama quase no chão. Uma tv grande, uma caixa de música residencial, brinquedos dos meus gatos. Não vou descrever por inteiro, mas posso dizer que os detalhes fazem mesmo toda a diferença. Liguei os leds e levei os copos com caipicerva pra sala. Ele tava sentado no sofá.
  - Bem legal, né.
  - Tem mesmo a tua cara. – Ele deu aquela risadinha de sempre. Aquela que mexia comigo antes.
  - Acho que sim, apesar de eu achar que ainda faltam aquelas bonecas de coleção que eu disse que algum dia ia ter. 
    Ele claramente riu da minha cara. – Vou comprar pra você.
  - Você sempre diz que vai fazer as coisas e no final não faz nada. Mas cara, eu tô brincando.
    A pizza chegou e eu fui receber.
  - Como coloca música aqui? – Ele perguntou, apontando pra tv.
  - É smart, mas deixa que eu ponho. Se tuas músicas forem ruins igual antigamente... – Eu ri, debochando. – Pega lá os pratos pra gente comer.
    Coloquei uns traps antigos que ele gostava de escutar e até hoje ele não sabia que na verdade, eu passei a curtir também.
  - Não sabia que você gostava disso.
  - Acho que atualmente você não sabe mais tanto de mim.
  - Sei, sei mais do que você pensa.
    A gente foi comendo e bebendo a caipicerva.
  - Se quiser mais, tá lá na geladeira.
  - Já já eu pego, mas me fala, por que você acha que não sei de nada?
  - Depois que a gente se afastou, eu meio que decidi que não ia te deixar saber. Mas isso não importa agora.
  - Talvez não. É a lei da vida, a gente muda e amadurece. Cadê seus óculos?
  - Cansei de usar eles o tempo todo. Mas já vou mesmo tirar as lentes, fiquei tempo demais com elas.
  - Eu lembro que você falava que queria mas nunca ia usar porque não ia se adaptar.
    Enquanto eu fui no quarto procurar meus óculos, fiquei pensando no que ele disse sobre saber muito de mim. Toda vez que a gente voltava a se falar, mesmo que fosse apenas por alguns dias e mesmo que fosse entre grandes intervalos de tempo, ele sempre comentava algo que sabia de mim. Mas depois de literalmente anos, não pensei que ele ia lembrar sobre o que eu tinha dito das lentes. “Que se foda”, interrompi meus pensamentos, dizendo pra mim mesma que a gente tava só bebendo e não interessava nada que tinha acontecido. Voltei pra sala.
    Mais ou menos uma hora tinha passado desde que a gente tinha terminado de comer. A gente tava conversando sobre todas as coisas que tinham acontecido, a caipicerva tinha acabado e eu já tava começando a tomar algumas Skol Beats. Já tava ficando bêbada outra vez.
  - Você continua não bebendo nada.
  - Prefiro fumar.
  - Se for fumar, vai lá no quintal porque não curto esse cheiro não.
  - Eu sei que não. 
    Ele deu aquela risadinha e foi. Eu fiquei sentada no sofá bebendo, e começou a tocar uma música que me deu um pique absurdo. Eu comecei a dançar, e aí que a bebida bateu mesmo. E mesmo assim, eu fiquei parada quando pensei que a gente tinha se reencontrado ali, e mesmo assim eu não tava me entregando pro que eu queria e pro que eu tava pensando. Aliás, tava pensando demais. De novo, mesmo depois de anos. Mesmo depois de tanto tempo sem a gente se ver. Eu fui lá fora chamar ele pra dançar. E por incrível que pareça, ele deixou o beck sem nem pensar duas vezes. Talvez estivesse esperando uma iniciativa minha pra gente se aproximar mais, não sei. Coloquei uma música que antigamente eu adorava. Era um daqueles funks que as pessoas costumavam dançar o passinho do romano.
  - Porra, você não mudou nada.
  - Acho que a gente não mudou tanto, mesmo. Você continua travado pra dançar. 
    Começamos a rir e eu sentei no chão. Ele aproveitou pra colocar um dos raps que ele sim gostava de tentar fazer passinho escutando, mesmo do jeito desajeitado que ele tinha. Ele me puxou pela mão e disse que ia me ensinar. Eu tava tentando aprender, e peguei a manha de um desses que ele tava me mostrando. Foi quando ele parou e ficou me olhando. Eu tava rindo porque não conseguia fazer o passinho direito, então olhei também. Ele me puxou e me beijou. Mas uns segundos antes disso acontecer, me impressionei sobre como meu coração acelerou com nossos olhares juntos, juntos como antes. Mesmo depois de tanto tempo, ainda dava o frio na barriga. Ele me pegou no colo e a gente foi pro meu quarto. Em momentos comuns, eu pensaria que isso não devia mais acontecer. Mas naquele momento, a gente sentiu uma coisa diferente. O olhar era diferente. Começou a espalhar beijos pelo meu corpo, e entre reboladas, sacanagens ditas, a gente fodeu. Eu lembrei disso tudo quando acordei no meio da madrugada. Fazia tanto tempo que a gente não se encontrava. Eu tinha dormido sem nem perceber. A gente tinha dito coisas um pro outro, coisas que só nós dois sabíamos que eram coisas lindas porque só nós dois sabíamos o que significavam e o que havia por trás de cada palavra. Mesmo que em insinuações silenciosas. Tudo que a gente sentira antes e sentia agora vinha de momentos que só a gente viveu. 
    Quando eu acordei, ele nem tinha dormido ainda. Não devia fazer nem meia hora que eu tinha pegado no sono, mas o céu tava começando a clarear. Eu só vi pela fresta da cortina, que disse pra ele levantar e fechar, antes de qualquer coisa. Claridade no quarto sempre me incomodou pra porra. Ele tava fazendo carinho no meu cabelo quando eu acordei, e quando deitou de novo, ia continuar quando o abracei. A gente se olhou e ele voltou a me encher de beijos. Ele disse que realmente tinha ido pro hookah pelo evento, junto com os meninos, e disse que tinha sentido coisas estranhas durante o dia. Sensações que ele normalmente não sentia mais há algum tempo. Então eu contei pra ele que tive exatamente a mesma sensação. 
  - Será que isso foi alguma coisa tipo destino? – Eu disse.
  - Acho que isso foi exatamente o que já devia sempre ter acontecido. 
  - Ai ai... – Eu sorri e levantei da cama pra colocar comida pros gatos. Ele me puxou de volta.
  - Eu não quero que acabe, não dessa vez. Eu senti sua falta pra caralho. 
A gente se beijou, ele foi colocar a ração. Enquanto isso, “sou inconstante pra porra e a vida é frágil demais” pensei, “diabos, talvez eu devesse fazer disso um pedaço de um capítulo”, e foi o que fiz.

Nenhum comentário

Postar um comentário