23 dezembro, 2019

73.

que estranho é. seguir em frente, ou tentar. esconder tudo que sente, fingir que não sente mais. fingir que parou de sentir, fingir que sente outra coisa. um faz de conta que não acaba, mas afinal, é da conta de quem? não querer que ninguém descubra que ainda mora no seu coração. mas não dá pra esconder de si mesmo se você sente lá dentro do peito. já dizia o ditado, o pior cego é aquele que não quer ver. acho que eu fingi não ver, desde o início. éramos um só, até sermos dois estranhos. cada um delineado o suficiente ao ponto de estar separado - e no sentido literal da palavra. mas quanto mais a gente nega um sentimento, mais ele se faz presente. e o que fazer se já não tem mais a quem dar esse sentimento? quando você tem medo o bastante pra não tomar um passo adiante, até que seja tão tarde que você não consiga seguir em frente. a gente tenta, tenta sim. a gente tenta achar outros corpos, a gente tenta dar outros beijos. mas não é fácil sentir a conexão. a gente tenta não pensar, mas acaba pensando. ocupa a mente o tempo todo, mas ao menor segundo ocioso, todos os sentimentos e lembranças vêm à mente. dá até vontade de correr. mas correr pra onde, se não tem mais um abraço pra se entregar? quando a gente já não pode ter é que a gente sente falta até mesmo dos momentos mais idiotas. é, erro meu. não digo que tudo foi culpa minha, mas entendo ter sido falha ao não me entregar pra um dos mais puros sentimentos que se pode existir. é a melhor coisa que se pode sentir, e ao mesmo tempo a mais temível. é. foi por isso que não me deixei levar. tive medo. cada um foi pro seu canto. 

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